Encontros em São Paulo debatem a produção feminina e o papel da mulher no teatro
MARIA LUÍSA BARSANELLI DE SÃO PAULO Nascida numa família operária de Glasgow (Escócia), a dramaturga Linda McLean, 61, diz ter demorado a encarar o teatro como um meio de vida. A escrita veio aos poucos, nasceu de rascunhos que fazia nos intervalos de seu trabalho como professora de inglês. Mas foi só após já ter se firmado como um dos principais nomes da dramaturgia escocesa, há quase 20 anos, que Mclean percebeu como a pouca visibilidade de mulheres na área influenciou sua falta de confiança. “Certa vez, um colega me disse: ‘Há tão poucas de vocês que, se não se colocarem, mulheres mais jovens não vão perceber que esse é um trabalho que elas podem fazer'”, diz à sãopaulo a dramaturga, no Brasil para o 9º Ciclo do Núcleo de Dramaturgia Sesi-British Council, que acontece até este domingo (1º) e tem como tema a produção feminina. Não é o único ciclo sobre a dramaturgia de mulheres. Em agosto, o Sesc São Caetano, na Grande São Paulo, recebeu um evento com o tema e o sarau Zona fez encontros sobre o assunto no teatro Pequeno Ato. “O teatro pode parecer progressista, mas estamos numa sociedade machista”, diz Maria Giulia Pinheiro, que coordena o Zona. Para a dramaturga Silvia Gomez, há menos reconhecimento de escritos femininos. “É como se nossa obra tivesse que falar mais alto. [Por isso], é importante se colocar como mulher.” Ela afirma que os debates têm, de certo modo, influenciado seu trabalho. “Me deu uma vontade de reafirmar essa voz [feminista], de falar dos incômodos do nosso tempo, como a questão do estupro.”