Ex-garoto Coca-Cola, Kazim tem chance no Corinthians
Contratado pelo Corinthians em janeiro, Colin Kazim-Richards, 31, não faz um gol desde fevereiro. Sorridente e brincalhão no treino de sexta (29), ele será o substituto de Jô neste domingo (1), às 16 horas, no Mineirão, contra o Cruzeiro pelo Brasileiro. O bom humor do atacante não foi apenas por receber uma chance. Ele está sempre assim. Conta com a torcida de elenco, comissão técnica e funcionários do clube para ter sucesso. Não apenas pela questão esportiva. “Ele merece carinho porque é uma pessoa espetacular”, disse o zagueiro Pablo. Jô fica fora por ter sofrido lesão na panturrilha. Na última chance de Kazim como titular, o Corinthians perdeu para o Atlético-GO por 1 a 0. Em 24 jogos até agora pelo clube, Kazim fez dois gols. Quando definiu que o inglês jogaria, Fabio Carille o chamou para conversa e pediu que não se sinta obrigado a resolver tudo sozinho. “É deixá-lo à vontade para fazer o melhor. Não jogar a responsabilidade de ter de fazer o gol”, disse o treinador. Kazim não sofreu para se adaptar ao Corinthians. Ele vê o futebol como uma forma de conhecer o mundo. O Brasil é o 7º país em que atua. Também jogou na Inglaterra, Turquia, França, Grécia, Holanda e Escócia. O Corinthians é seu 14º clube. Ao contrário do que acontece com outros estrangeiros, não teve problema com língua, comida ou saudade de casa. Sua mulher é brasileira e Kazim fala português. Ele conheceu Mariana Bigão em 2009, quando estava no Fenerbahce (TUR) e voltava de partida contra o Sion (SUI). Viu-a no aeroporto de Genebra, onde ela trabalhava. Cada vez que alguém menciona a pressão por jogar no Corinthians, Kazim ri. Sabe o que é pressão. Foi o primeiro atleta a se transferir do Fenerbahce para o Galatasaray, a grande rivalidade da Turquia e uma das maiores do futebol mundial. Ao ser reprovado pelo Arsenal, aos 15, trocou a cosmopolita Londres por Bury, pequena cidade no norte da Inglaterra. Colegas cortavam os laços dos seus tênis e faziam furos em suas calças enquanto ele treinava. O atacante não tinha dinheiro para comprar roupas todas as semanas. No início, achou que era brincadeira. Depois considerou racismo. Era um dos poucos negros na cidade, filho de mãe turca e pai caribenho que detesta peixe frito com batatas fritas, prato típico do Reino Unido. Ignorar a pressão não significa ser indiferente. Kazim tem problemas para dormir em jogos que vai mal. Repassa os 90 minutos na cabeça, imaginando o motivo para não ter ocorrido o esperado. Poderia ter dado errado em 2007, quando abandonou a Inglaterra para jogar pelo Fenerbahce. Mas deu certo. Ele se naturalizou no país em que sua mãe nasceu, jogou pela seleção e chegou às semifinais da Eurocopa de 2008. No clube, conheceu o meia Alex, que o indicou para jogar no Coritiba em 2016. “Ele é um cara que ajuda qualquer elenco. Tanto dentro quanto fora de campo”, diz o goleiro Wilson, companheiro na capital paranaense. Foi no Coritiba que teve o melhor momento no futebol brasileiro. Na estreia, fez o gol da vitória contra o Atlético-PR. Comemorou com homenagem ao país adotivo, que sofria com atentados: “Fuck terrorism! I love Turkey” (F…-se terrorismo! Eu amo a Turquia, em inglês). Campeão paulista, pode também ganhar o Brasileiro sem o protagonismo que imaginava. A não ser que desande a fazer gols a partir de domingo. A carreira dele é recheada de surpresas. Em 2005, a Coca-Cola fez promoção na Inglaterra que pagaria 250 mil libras (R$ 1 milhão hoje) de prêmio para o clube do torcedor sorteado. O vencedor deu o dinheiro para o Brighton. A bolada foi usada para contratar Kazim-Richards. O atacante passou a ser chamado de “garoto Coca-Cola”. Apelido que ele detesta. NA TV Cruzeiro x Corinthians 16h, Globo (SP)