Advogado diz que marqueteiro do PT omitiu offshore em delação

O advogado Rodrigo Tacla Duran, que trabalhou para a Odebrecht de 2011 a 2016, diz ter recebido de um executivo da empreiteira uma planilha que aponta supostos repasses ao marqueteiro João Santana por meio de uma offshore nas Ilhas Cayman, a Deltora Enterprises Group. Santana fechou acordo de colaboração premiada com a Lava Jato e não citou a Deltora entre as empresas de fachada que foram usadas para o recebimento de pagamentos de caixa dois. Procurado por meio de seus advogados, o publicitário negou ter omitido qualquer informação das autoridades e disse que jamais utilizou a offshore citada por Duran em suas operações. O advogado é um personagem controverso na narrativa de colaboração da Odebrecht com a Lava Jato. Ele não fechou acordo de colaboração e acabou alvo de um mandado de prisão. Decidiu fugir para a Espanha –ele tem dupla cidadania– e o país europeu negou sua extradição ao Brasil. Desde então, ele tem feito acusações à empreiteira, afirmando que ela omitiu informações das autoridades e usou documentos falsos para alavancar o acordo de colaboração e omitir desvios de seus executivos. Duran diz que repassou informações sobre operações da Odebrecht a autoridades de sete países. A planilha que apontaria repasses ainda não conhecidos a Santana e sua mulher, Mônica Moura, será publicada por ele em um livro que está escrevendo. Não há data fechada para a publicação. Segundo a narrativa de Duran, a planilha que registra repasses ao “Feira” lhe foi entregue por Hilberto Mascarenhas da Silva, o coordenador do departamento de operações estruturadas da empreiteira, área conhecida hoje como o centro de distribuição de propinas da Odebrecht. Mascarenhas teria entregado um pen drive a Duran em 2014 com o discurso de que Marcelo Odebrecht queria conhecer os destinatários das contas. A planilha estava armazenada no equipamento. A Folha teve acesso ao documento. Ele registra o que seriam pedidos de repasses por meio da Deltora com destino ao codinome “Feira”, de João Santana. O então superintendente da Odebrecht no Panamá, André Rabello, aparece como ordenador dos pagamentos. Os supostos registros apontam 11 remessas de dólares à Deltora, entre novembro de 2013 e julho de 2014, e somam US$ 5,3 milhões. O documento indica também o número da conta que teria sido usada para fazer os repasses: 1-313627. Todas as citações a eventuais crimes cometidos pela Odebrecht no exterior ainda estão sob sigilo, por isso não é possível saber se repasses por meio da Deltora foram ou não citados pela empreiteira em meio aos relatos sobre suas operações no Panamá. A empreiteira afirma que Duran nunca atuou como advogado, mas como doleiro. Procurada, a Odebrecht emitiu nota na qual diz que “as atividades de Rodrigo Tacla Duran foram informadas pela Odebrecht às autoridades no processo de colaboração com a Justiça”. Os relatos do advogado também são contestados pela força-tarefa da Lava Jato. Procuradores acusam o advogado de ser um mentiroso. Mais recentemente, após a Folha registrar que Duran acusa um advogado próximo a Sergio Moro de tentar intervir em delações, o próprio juiz emitiu nota acusando-o de fazer relatos falsos. Duran chegou a ser convidado a falar na Comissão de Segurança da Câmara, mas sua oitiva foi cancelada. Veja os principais réus na Lava Jato OUTRO LADO Procurado, o advogado Beno Brandão, que representa o publicitário João Santana e sua mulher, a empresária Mônica Moura, emitiu nota na qual nega ter recebido qualquer valor por meio da Deldora Enterprises Group. “Todos os detalhes sobre as atividades profissionais de meus clientes [Santana e Moura] constam dos documentos do acordo de colaboração premiada que eles firmaram com o Ministério Público Federal e que foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Nada foi omitido”, declarou o defensor do casal de marqueteiros, que trabalhou para as campanhas presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, entre outras. “Podemos garantir que nossos clientes nunca utilizaram a offshore Deltora Enterprise Group”, afirmou o advogado. Nesta sexta, os advogados de Santana e Mônica afirmaram que pedirão à Procuradoria-Geral da República que investigue a Deltora Entrerprise Group, bem como a conta que teria sido usada para repassar valores não declarados pelo casal, segundo o advogado Rodrigo Tacla Duran. A nota classifica como “caluniosas e infundadas as informações atribuídas” ao advogado. A assessoria da construtora Odebrecht, também em nota enviada à reportagem, afirmou que “as atividades do sr. Rodrigo Tacla Duran foram informadas pela Odebrecht às autoridades no processo de colaboração com a Justiça”. “A Odebrecht vem colaborando com as investigações de forma definitiva, prestando todos os esclarecimentos necessários, e continua à disposição das autoridades”, informou a assessoria da empresa. A Odebrecht, que firmou acordo de delação com a Lava Jato envolvendo 78 executivos, diz que “a qualidade e eficácia da colaboração da empresa vêm sendo comprovadas e têm sido instrumento valioso no combate à corrupção nas regiões onde atua.”