Na turnê que o Brasil não viu, Lady Gaga vive momento ‘Faustão’
“Me chamem de Joanne”, pede Lady Gaga às 17 mil pessoas que lotaram o The Forum, clássica casa de shows em Los Angeles. Ela nem precisaria pedir. Grande parte dos “monstrinhos”, como são conhecidos os fãs da popstar, já sabe quem é a nova personagem. Joanne batiza o tour que Gaga deveria ter trazido ao Brasil, em apresentação única no dia 15, no Rock in Rio. A personagem é encarnada pela cantora desde o ano passado, quando excursionou tocando em alguns bares menores, interpretando esse papel, uma mescla de Dolly Parton e Madonna. Mas é assim que ela aparece para cantar “Diamond Heart” e “A-Yo”, de chapéu de caubói coberto por purpurina e um casaco de franjas que esconde um maiô roxo –e, depois de guitarra na mão. A fantasia já cai na terceira música, quando entra o hit “Poker Face”. Country rock ou pop? A dualidade permeia e define toda a apresentação da diva durante os sete atos de uma apresentação de duas horas. É uma Lady Gaga que luta contra o monstro que criou, uma artista que bebeu do niilismo do excesso pop no início de carreira, mas que sabe cantar. E muito. Não é uma tarefa fácil. Tanto que existe uma preocupação de minimizar os efeitos especiais em torno da “Joanne Tour” e de mesclar sucessos como “Telephone” e “Alejandro” (numa versão reduzida) com canções novas de menor impacto visual, como “John Wayne”. Os palcos são simples na sua mecânica de plataformas móveis e ganham mais impacto quando são utilizados para levar a cantora durante “Applause” para a plataforma menor, que fica no outro extremo da arena, apenas com seu piano transparente (e luzes internas, claro). Nesse momento, solitária e mais perto dos fãs, Lady Gaga parece transcender seu papel de popstar. Em “Come to Mama”, ela discursa sobre o movimento LGBT e diversidade, dedicando a música ao produtor Mark Ronson. Ainda ao piano para “The Edge of Glory”, a cantora entra no modo Faustão: dedica a canção à família presente, lembra que o pai faz aniversário e presta uma homenagem a um amigo que perdeu a mulher. Funciona; a apresentação ganha humanidade e despojamento, qualidades perdidas em shows pop. Sim, Lady Gaga toca seus hits, se veste de baronesa do sangue em “Bloody Mary”, emula Ziggy Stardust em “Just Dance” e evoca a “prostituta dentro de mim” em “Born This Way” (quando retorna ao palco principal). No entanto parece menos confortável no papel de líder de coreografia. É possível pensar que a cantora ainda enxugaria alguns excessos para a aparição no evento carioca, deixando a apresentação mais orgânica e natural. Nessa nova turnê, Gaga prova que deseja amadurecer como outras popstars não conseguiram. “Joanne” é claramente uma transição. Se ela virá ao Brasil, ainda não se sabe. Mas, quando Gaga pisar no país, possivelmente terá se tornado uma artista bem diferente da atual. LADY GAGA – JOANNE TOUR (bom)