PIB: os 4 sinais que mostram a perda de ritmo da economia brasileira no 2º trimestre

PIB do Brasil desacelera e cresce 0,4% no 2º trimestre, diz IBGE

PIB do Brasil desacelera e cresce 0,4% no 2º trimestre, diz IBGE

O PIB brasileiro avançou 0,4% do primeiro para o segundo trimestre de 2025 e acumulou alta de 2,2% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Segundo economistas ouvidos pelo g1, a desaceleração tem ocorrido de forma gradual, como uma “escadinha”, resultado de diversos fatores macroeconômicos.

1. Taxas de juros elevadas:

Com a Selic em 15% — o maior patamar em quase 20 anos — o Consumo das Famílias, apesar de firme no segundo trimestre, continua afetado pelos juros elevados.

Segundo o IBGE, os salários reais seguem em crescimento e os programas de transferência de renda do governo permanecem ativos, o que sustenta parte desse consumo.

Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, a questão é que a população brasileira segue endividada, e a inadimplência tem aumentado nos últimos meses.

“Muito provavelmente, veremos o consumo desacelerar. Esse movimento vem com intensidade justamente por conta da taxa de juros: mesmo com a renda crescendo, o consumidor sente o efeito dos juros altos e precisa rever suas posições de crédito, decidindo o que manter e como administrar seus recursos”.

Além disso, setores mais sensíveis aos juros, como construção, indústria de transformação e parte do comércio — importantes motores de investimento e consumo — mostraram menor dinamismo.

O economista Maykon Douglas observa que “a parte mais cíclica do PIB caiu de 0,14% para 0,07%, movimento natural diante do aumento dos juros”.

2. Agropecuária recua

Segundo Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, “o crescimento interanual do primeiro trimestre já foi significativo. O clima favorável explica as estimativas recordes para a safra, que puxam esses bons resultados da agropecuária”.

A queda no trimestre reflete, portanto, uma normalização após o efeito excepcional da safra anterior, sem sinalizar uma retração estrutural no setor.

3. Investimentos em queda

Os investimentos caíram 2,2% no trimestre, pressionando o crescimento do PIB.

  • 🔎 Chamado pelo IBGE de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), o segmento mede os investimentos de empresas, governos e outros produtores na compra de bens de capital usados na produção de bens e serviços.

Para Silvia Matos, economista da FGV-IBRE, a percepção de fraqueza nos investimentos do segundo trimestre, com queda de 2,2%, foi influenciada pela alta de 3,2% registrada nos três meses anteriores.

Ela lembra que, em fevereiro, o país importou uma plataforma de extração de petróleo de US$ 2,7 bilhões.

“Ao considerar a média dos dois trimestres, o investimento mostra uma desaceleração, com crescimento médio de 0,5%, mas não se trata de uma ‘tragédia’ nem de um ‘colapso acima do esperado’”, diz.

Segundo a economista, os investimentos devem crescer menos neste ano, mas é preciso cautela na análise para evitar “exageros nos números”.

“O investimento está desacelerando e deve continuar nesse ritmo, crescendo menos neste ano do que no anterior, mas sem dúvida ainda sofre os efeitos defasados da política monetária”, frisa.

Leonardo Costa segue a mesma linha, e reforça que o resultado reflete condições financeiras apertadas e menor confiança. “Essa retração limita a expansão da capacidade produtiva e reforça a expectativa de desaceleração gradual da economia ao longo do ano”, diz o economista do ASA.

PIB do segundo trimestre por demanda — Foto: Arte/g1

PIB do segundo trimestre por demanda — Foto: Arte/g1

4. Consumo do governo diminui

Além da taxa de juros e do desempenho de setores específicos, a redução do estímulo fiscal do governo federal também pesou na desaceleração da economia no segundo trimestre.

No período, o Consumo do Governo caiu 0,6%, refletindo contenção de gastos após anos de forte expansão.

“Nos últimos anos, o governo gastou com muita intensidade, mas esse efeito diminuiu em 2025, ajudando na desaceleração da economia”, explica Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

O economista Maykon Douglas acrescenta: “O PIB se manteve positivo mesmo com a queda nos gastos do governo, que vinham impulsionando a economia nos anos recentes. Esse recuo contribui para que a desaceleração aconteça com mais intensidade no consumo e nos investimentos”.

Setores compensam parcialmente

Apesar da desaceleração, Indústria e Serviços cresceram. Os serviços avançaram 0,6%, impulsionados por quase todos os segmentos.

Os destaques foram: atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (+2,1%), informação e comunicação (+1,2%), transporte, armazenagem e correio (+1,0%) e outros serviços (+0,7%).

Silvia lembra que, em 2024, o setor de serviços cresceu em média 1,3% por trimestre. Agora, o ritmo caiu para cerca de 0,5%. “Mas ainda há avanço. Nossa projeção é de crescimento próximo a 1,8% para o setor neste ano”, disse a economista da FGV.

A indústria cresceu 0,5%, puxada pelo setor extrativo (5,4%), mas foi pressionada pelas quedas em eletricidade e gás, água, esgoto e gestão de resíduos (-2,7%) e na indústria de transformação (-0,5%).

Segundo Silvia Mattos, dois fatores explicam esse resultado.

“O primeiro é a política monetária, que leva as pessoas a reduzirem o consumo de bens duráveis. O segundo é que, no ano passado, a indústria teve um desempenho muito forte, com sucessivas surpresas positivas. Esse resultado, no entanto, foi influenciado pelo desempenho fraco de 2023, o que fez com que 2024 se ‘beneficiasse’ dessa base de comparação mais baixa”, aponta a economista.

Para os próximos meses, os economistas preveem uma desaceleração gradual da economia, mas com apoio de fatores pontuais, como a liberação de precatórios e o novo consignado privado. A expectativa geral é de crescimento do PIB em torno de 2,2% em 2025.

Dinheiro na mão/Reprodução/Arquivo — Foto: Foto: Arthuro Paganini

Dinheiro na mão/Reprodução/Arquivo — Foto: Foto: Arthuro Paganini