Trump x Maduro: de troca de ameaças a bombardeio de barco e envio de caças, entenda escalada de tensão

Donald Trump, presidente dos EUA, e Nicolás Maduro, líder do chavismo na Venezuela — Foto: Kevin Lamarque e Manaure Quintero/Reuters

Donald Trump, presidente dos EUA, e Nicolás Maduro, líder do chavismo na Venezuela — Foto: Kevin Lamarque e Manaure Quintero/Reuters

Os episódios ocorreram dois dias após militares dos EUA bombardearem um barco no Caribe. Donald Trump disse que a embarcação estava carregada com drogas e pertencia à gangue venezuelana Tren de Aragua — considerada terrorista pelo governo americano.

Ao comentar o bombardeio, Trump acusou o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, de controlar o Tren de Aragua. Ele também o responsabilizou por “assassinatos em massa, tráfico de drogas, tráfico sexual e atos de violência e terror nos Estados Unidos”.

Sobre o sobrevoo dos caças venezuelanos, o Departamento de Defesa americano confirmou a informação e chamou a ação de “altamente provocativa”.

A embarcação americana está no sul do Caribe em uma operação contra o tráfico internacional de drogas. Há outros navios dos EUA na região, além de um submarino nuclear.

Entenda a cronologia da tensão entre os países

O embate entre Trump e Maduro não é de agora – e da sequência à tensão entre os países desde o governo de Hugo Chávez, entre 1999 e 2013. Em 2017, em seu primeiro mandato, Donald Trump chegou a falar em “opção militar” para a Venezuela.

Em janeiro de 2019, Maduro rompeu relações diplomáticas com os EUA poucas horas depois de Juan Guaidó se declarar presidente interino e receber apoio de Washington e do Brasil. Na ocasião, voltou a circular a ameaça de uma intervenção militar americana.

A tensão atual entre os países, no entanto, começou a crescer desde que os Estados Unidos aumentaram a recompensa por informações que levem à prisão ou condenação de Nicolás Maduro, que o país acusa de “chefiar” o Cartel de los Soles e o Tren de Aragua.

📅 7 de agosto: aumento de recompensa

Em 7 de agosto deste ano, os Estados Unidos elevaram para US$ 50 milhões (cerca de R$ 270 milhões) a recompensa por informações que levem à prisão ou condenação de Nicolás Maduro. O anúncio foi feito pela procuradora-geral Pam Bondi.

Os EUA já haviam divulgado, em 28 de julho, um cartaz oferecendo US$ 25 milhões (cerca de R$ 140 milhões) pela captura do líder venezuelano.

Segundo Bondi, o valor foi dobrado porque Maduro representa uma ameaça à segurança nacional dos Estados Unidos e seria, nas palavras dela, “um dos maiores narcotraficantes do mundo”.

📅8 de agosto: governo Maduro responde

O ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino Lopez, foi à TV no dia 8 de agosto para rebater as acusações dos Estados Unidos contra Maduro.

Vladimir Padrino Lopez também teve uma recompensa fixada pelos EUA por informações sobre ele, assim como Diosdado Cabello Rondón, ministro do Interior, Justiça e Paz.

📅14 de agosto: EUA começam a enviar tropas

Segundo duas fontes ouvidas pela agência Reuters, o Departamento de Defesa americano deslocou forças aéreas e navais para o sul do Mar do Caribe.

A movimentação ocorreu após Trump assinar, de forma secreta, uma ordem autorizando o Pentágono a usar poder militar em países latino-americanos no combate ao narcotráfico. A informação foi revelada em reportagem do jornal norte-americano The New York Times.

📅19 de agosto: “toda força” contra Maduro

A porta-voz do governo americano, Karoline Leavitt, afirmou no dia 19 de agosto que Trump usaria “toda a força” contra o regime venezuelano.

“Maduro não é um presidente legítimo. Ele é um fugitivo e chefe de um cartel narcoterrorista acusado nos EUA de tráfico de drogas. Trump está preparado para usar toda a força americana para deter o tráfico de drogas”, disse Leavitt, a jornalistas, na Casa Branca.

Governo Trump diz que vai usar 'toda a força' contra Maduro na Venezuela

Governo Trump diz que vai usar ‘toda a força’ contra Maduro na Venezuela

“Vou ativar nesta semana um plano especial para garantir a cobertura, com mais de 4,5 milhões de milicianos, de todo o território nacional, milícias preparadas, ativadas e armadas”, anunciou em ato transmitido pela TV, ao ordenar “tarefas” perante “a renovação das ameaças” dos EUA contra a Venezuela.

Ainda naquela semana, os Estados Unidos deslocaram três navios de guerra para o sul do Caribe, próximos à costa da Venezuela, alegando combater ameaças de cartéis de drogas, segundo agências de notícias.

📅28 de agosto: Maduro visita tropas

Maduro aparece de farda militar e fala em 'defender a soberania'

Maduro aparece de farda militar e fala em ‘defender a soberania’

Maduro falou em “defender a paz e a soberania nacional” contra uma “guerra psicológica” empregada pelo governo de Donald Trump e disse que o governo da Colômbia se uniu aos esforços dos venezuelanos para reforçar a segurança na fronteira.

“Hoje posso dizer, depois de 20 dias seguidos de anúncios, ameaças, guerra psicológica, 20 dias de cerco contra a nação venezuelana, que hoje estamos mais fortes que ontem, mais preparados para defender a paz, a soberania e a integridade territorial do que ontem — muito mais”, afirmou o líder venezuelano.

📅29 de agosto: Venezuela pede ajuda à ONU

No texto assinado por Nicolás Maduro e endereçado ao secretário-geral da ONU, António Guterres, Caracas solicitou que a ONU exija que o governo de Donald Trump cancele a operação naval a caminho da costa da Venezuela. E chamou a ofensiva de Trump de “ameaça gravíssima”.

📅1° de setembro: Maduro fala em ‘luta armada’

Maduro fala em luta armada na Venezuela

Maduro fala em luta armada na Venezuela

Em uma rara entrevista coletiva à imprensa, Maduro afirmou que os navios de guerra, além de um submarino, “apontam” para o território venezuelano e carregam cerca de 1.200 mísseis, todos direcionados à Venezuela.

O presidente classificou o envio das embarcações como “a maior ameaça à América Latina do último século” e declarou que a Venezuela não se curvará a pressões externas.

Venezuela e Guiana travam uma das principais disputas territoriais da América Latina pelo controle da região de Essequibo, território guianense que Caracas reivindica. Em 2024, Maduro promoveu um referendo sobre a anexação da área e afirmou que a maioria dos votos foi favorável.

📅2 de setembro: EUA atacam barco no Caribe

VÍDEO mostra EUA atacando barco no Caribe

VÍDEO mostra EUA atacando barco no Caribe

Segundo o governo dos EUA, o barco estava carregado com drogas, e 11 pessoas morreram.

Em uma rede social, Trump disse que militares dos EUA atacaram o barco do grupo Tren de Aragua. A gangue venezuelana é classificada como organização terrorista pelo governo norte-americano.

Caças venezuelanos sobrevoam navio americano no Caribe

Caças venezuelanos sobrevoam navio americano no Caribe

📅4 de setembro: caças venezuelanos sobrevoam navio americano

Dois caças venezuelanos armados sobrevoaram o destróier norte-americano USS Jason Dunham no mar do Caribe, segundo um oficial dos EUA.

O Departamento de Defesa americano confirmou a informação e chamou a ação de “altamente provocativa”.

A imprensa americana informou que o Pentágono classificou a ação como uma tentativa de “demonstração de força” da Venezuela. O destróier dos EUA não reagiu ao sobrevoo, que foi feito com caças F-16.

“O cartel que controla a Venezuela é fortemente advertido a não tentar, de nenhuma forma, obstruir, dissuadir ou interferir nas operações de combate ao narcotráfico e ao terrorismo conduzidas pelas forças militares dos Estados Unidos”, publicou o Pentágono.

Militares da Marinha dos EUA se posicionam no entorno de um caça F-35, no porta-aviões USS George Washington — Foto: Victor R. Caivano/AP Photo

Militares da Marinha dos EUA se posicionam no entorno de um caça F-35, no porta-aviões USS George Washington — Foto: Victor R. Caivano/AP Photo

📅 05 de setembro de 2025: EUA ordenam envio de 10 jatos F-35

Horas depois, os EUA ordenaram o envio de 10 jatos F-35 para Porto Rico, que fica na região do Caribe, para dar suporte às operações contra os cartéis de drogas. Os caças irão à base aérea em Porto Rico, próximo à região onde navios de guerra americanos estão mobilizados.

Duas autoridades do governo americano ouvidas pela Reuters disseram que os caças devem chegar a Porto Rico até o fim da próxima semana, e foram designadas para conduzir operações contra organizações designadas como narcoterroristas que atuam no sul do Caribe.

Poderio militar da Venezuela. — Foto: Gui Sousa/Equipe de arte g1

Poderio militar da Venezuela. — Foto: Gui Sousa/Equipe de arte g1

Perfil da Venezuela — Foto: Bruna Azevedo/g1

Perfil da Venezuela — Foto: Bruna Azevedo/g1

*sob supervisão de Ricardo Gallo

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