Além do tarifaço, Brasil pode sofrer sanções dos EUA por comércio com a Rússia, dizem senadores que viajaram a Washington

Há outra crise pior que pode nos atingir em 90 dias, dizem senadores

Há outra crise pior que pode nos atingir em 90 dias, dizem senadores

Os senadores brasileiros que viajaram a Washington para tentar abrir um canal de diálogo com o Congresso e com o setor privado norte-americano afirmaram nesta quarta-feira (30) que a relação comercial do Brasil com a Rússia pode gerar uma nova tensão com os EUA.

“Há outra crise pior que pode nos atingir em 90 dias”, afirmou o senador Carlos Viana (Podemos-MG) a jornalistas.

“Tanto republicanos quanto democratas foram firmes em dizer que vão aprovar uma lei que vai criar sanções automáticas para todos os países que fazem negócios com a Rússia”, completou.

A comitiva reforçou que esse é um dos pontos que serão abordados com o governo brasileiro, reiterando que a leitura dos parlamentares norte-americanos é que os países que continuam a fazer negócio com Putin estão ajudando a intensificar o conflito entre Moscou e a Ucrânia.

“Eles estão preocupados em acabar com a guerra [com a Ucrânia], e eles acham que quem compra da Rússia dá munição para a guerra continuar”, afirmou a senadora Tereza Cristina (PP-MS).

A importação de combustível da Rússia por parte de vários países pelo mundo tem sido um tema sensível entre republicanos e democratas nos Estados Unidos. No caso do Brasil, a maior importação diz respeito a combustíveis e fertilizantes.

Mais cedo nesta quarta-feira (30), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impôs uma “multa” à Índia como forma de penalidade pelas negociações de equipamentos militares e energia do país com a Rússia.

“Embora a Índia seja nossa amiga, ao longo dos anos fizemos relativamente poucos negócios com eles porque suas tarifas são altíssimas, entre as mais altas do mundo, e eles têm barreiras comerciais não monetárias mais rigorosas e incômodas do que qualquer país”, afirmou o republicano em uma publicação no Truth Social.

Trump afirmou, ainda, que a Índia também sempre comprou a grande maioria de seus equipamentos militares e de energia da Rússia, juntamente com a China, reiterando que o comércio entre os dois países acontece mesmo em um momento em que o mundo quer que Moscou “pare com a matança na Ucrânia”.

“Tudo isso não é bom! A Índia, portanto, pagará uma tarifa de 25% mais uma multa pelo citado acima, começando a partir de 1º de agosto”, completou o republicano.

Tarifaço: senadores brasileiros falam com a imprensa durante visita aos EUA — Foto: Reprodução/GloboNews

Tarifaço: senadores brasileiros falam com a imprensa durante visita aos EUA — Foto: Reprodução/GloboNews

‘Conseguimos abrir canal de conversa’, dizem senadores

Parte principal do objetivo da comitiva era o de abrir um canal de conversa com parlamentares norte-americanos e com empresas que poderiam ser afetadas pelo tarifaço de Trump.

Segundo os senadores, apesar da dificuldade de falar com republicanos — apenas um senador respondeu ao convite de conversa —, a comitiva conseguiu cumprir com o seu papel principal de abrir um canal de diálogo entre o Brasil e os norte-americanos.

“Conversamos com um número razoável de parlamentares, conversamos com diversas companhias e tivemos o apoio completo desses empresários porque eles também têm prejuízo com essa situação”, afirmou o senador Marcos Pontes (PL-SP).

Apesar da aproximação do prazo de 1º de agosto, que é a data de vigência das tarifas de 50% sobre produtos brasileiros impostas por Trump, o Brasil ainda não conseguiu avançar significativamente nas suas negociações com os Estados Unidos.

Para Viana, o “gesto de boa-vontade” dos senadores em tentar melhorar o diálogo entre o Brasil e os EUA foi visto com bons olhos e trouxe a possibilidade de alguns setores, que não tem produção própria no território norte-americano, não serem taxados.

“Nós ouvimos ontem dos senadores americanos que taxar o Brasil nesses setores de café, grãos e outras áreas que eles têm dependência seria um gol contra para os Estados Unidos”, disse o senador e jornalistas.

“Mas uma coisa que os empresários colocaram com clareza é que o Brasil precisa trazer à mesa de negociação muito mais do que apenas um pedido de não-tarifas, mas precisa trazer novamente um diálogo de parceria com os Estados Unidos, que está suspenso há pelo menos três anos”, completou.

Os senadores também reforçaram a importância da presença do presidente Lula (PT) nas negociações e ressaltaram que as conversas devem continuar mesmo após o prazo de 1º de agosto.

“O que está nos impedindo é que ninguém quer conversar. Eu pedi para fazer contato”, afirmou Lula. “Eu designei meu vice-presidente, meu ministro da Agricultura, meu ministro da Economia, para que todos conversem com seus equivalentes nos EUA para entender qual é a possibilidade de conversa. Até agora, não foi possível”.

O petista ainda reiterou que não pretende conduzir as negociações sobre o tarifaço como se fosse um “país pequeno contra um país grande”.

“Nas negociações políticas entre dois países, a vontade de nenhum deve prevalecer. Nós sempre precisamos encontrar um meio-termo. Isso não é alcançado ‘estufando o peito’ e gritando coisas que você não pode entregar, nem abaixando a cabeça e simplesmente dizendo ‘amém’ a qualquer coisa que os Estados Unidos quiser”, prosseguiu.

Senadores brasileiros se encontram com parlamentares americanos em Washington na tentativa de adiar o prazo do tarifaço

Senadores brasileiros se encontram com parlamentares americanos em Washington na tentativa de adiar o prazo do tarifaço