Alemanha e Espanha pressionam UE para avançar com acordo Mercosul

Presidente da França afirma que acordo comercial entre UE e Mercosul não pode ser assinado

Presidente da França afirma que acordo comercial entre UE e Mercosul não pode ser assinado

O chanceler alemão, Friedrich Merz, e o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, defenderam nesta quinta-feira (18), na cúpula da UE em Bruxelas, que o bloco avance no acordo firmado politicamente no ano passado com Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.

Alemanha, Espanha e países nórdicos avaliam que o tratado pode ajudar a compensar os efeitos das tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos europeus e reduzir a dependência em relação à China, ao ampliar o acesso a minerais e novos mercados.

“Este acordo é o primeiro de muitos que precisam acontecer para que a Europa ganhe peso geoeconômico e geopolítico em um momento em que esse papel está sendo questionado por adversários claros, como Putin, ou até mesmo por aliados tradicionais”, afirmou Sánchez.

Na mesma linha, Merz disse que a credibilidade da política comercial europeia está em jogo.

“Se a União Europeia quiser manter credibilidade na política comercial global, decisões precisam ser tomadas agora”, declarou o chanceler alemão.

Merz disse que Alemanha um dos países 'mais bonitos do mundo' e nenhum jornalista queria ficar em Belém — Foto: AFP via Getty

Merz disse que Alemanha um dos países ‘mais bonitos do mundo’ e nenhum jornalista queria ficar em Belém — Foto: AFP via Getty

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França reforça resistência ao acordo

“Quero dizer aos nossos agricultores, que manifestam claramente a posição francesa desde o início: consideramos que as contas não fecham e que este acordo não pode ser assinado”, declarou Macron à imprensa antes de uma reunião de cúpula da UE.

Ele antecipou que a França se oporá a qualquer “tentativa de forçar” a adoção do pacto comercial com o bloco sul-americano.

  • 👉 Entre agricultores franceses, o acordo com o Mercosul é amplamente visto como uma ameaça, diante do receio de concorrência com produtos latino-americanos mais baratos e produzidos sob padrões ambientais distintos dos europeus.

Javier Milei, Luis Lacalle Pou, Ursula von der Leyen, Luiz Inacio Lula da Silva e Santiago Pena durante cúpula do Mercosul, no qual o acordo com a União Europeia foi fechado — Foto: Mariana Greif/Reuters

Javier Milei, Luis Lacalle Pou, Ursula von der Leyen, Luiz Inacio Lula da Silva e Santiago Pena durante cúpula do Mercosul, no qual o acordo com a União Europeia foi fechado — Foto: Mariana Greif/Reuters

O que está em jogo no Conselho Europeu?

Com a aprovação das salvaguardas pelo Parlamento Europeu, o processo avança agora para o Conselho Europeu, instância responsável por autorizar formalmente a Comissão Europeia a ratificar o acordo.

Diferentemente do que ocorre no Legislativo, onde basta maioria simples, o Conselho exige maioria qualificada: o apoio de ao menos 15 dos 27 países do bloco, que representem 65% da população da União Europeia.

É justamente nessa etapa que se concentra o principal risco político de o acordo não avançar.

“França e Polônia seguem abertamente contrárias ao tratado, enquanto Bélgica e Áustria demonstram desconforto. Se a Itália mantiver uma posição favorável, o acordo fica praticamente assegurado dentro da União Europeia”, afirma José Pimenta, diretor de Comércio Internacional na BMJ Consultores Associados.

Embora o debate público esteja concentrado no agronegócio — principal foco da resistência europeia — o acordo entre Mercosul e União Europeia é mais amplo e vai além do comércio de produtos agrícolas.

Leonardo Munhoz, pesquisador do Centro de Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV), reforça que o tratado abrange temas como indústria, serviços, investimentos, propriedade intelectual e insumos produtivos, o que ajuda a explicar o apoio de diferentes setores econômicos do bloco europeu.

Segundo ele, diversos setores econômicos europeus, como indústria de manufatura, indústria de transformação e alta tecnologia, serviços e até segmentos do próprio agronegócio, têm se mostrado favoráveis ao tratado.

“Países como Alemanha, Espanha e Portugal estão entre os principais defensores da ratificação, por avaliarem que o tratado traz ganhos econômicos importantes e contribui para a diversificação das relações comerciais da UE”, destaca Munhoz.