BRB e Banco Master: relembre os capítulos da operação financeira e entenda por que melou

Miriam Leitão: o que explica o bloqueio de compra do banco Master?
O acordo, que poderia aliviar a situação do Master — marcado por altos riscos e estratégias ousadas — acabou desencadeando uma onda de investigações, pressões políticas e disputas judiciais.
Ao longo dos últimos meses, porém, a proposta enfrentou vários entraves técnicos e institucionais, até ser definitivamente rejeitada pelo BC.
A seguir, veja os principais capítulos dessa disputa.

— Foto: Crédito: Divulgação
BRB anuncia compra do Master
A operação era vista como um “alívio” para o Master, comandado por Daniel Vorcaro e conhecido pelo alto custo de captação. O banco emitia CDBs que pagavam até 40% acima da taxa básica do mercado e possuía investimentos arriscados em precatórios e em empresas em dificuldades, como mostrou o jornal “Valor Econômico”.
Justiça questiona a operação
A polêmica se intensificou quando os órgãos de controle passaram a atuar no caso. Em 1º de abril, o Ministério Público do DF (MPDFT) solicitou esclarecimentos sobre as condições da compra e venda de ações, enquanto o Ministério Público de Contas do DF (MPCDF) pediu acesso integral ao processo administrativo da aquisição de participação no Banco Master.
Cade aprova a compra
Segundo o parecer assinado pelo superintendente-geral do Cade, Alexandre Barreto, a operação não representava riscos significativos para a concorrência no setor.
A análise mostrou que, nos segmentos em que BRB e Master atuavam de forma semelhante, a participação combinada das duas instituições era inferior a 20% — abaixo do limite usado para presumir domínio de mercado.
Nos segmentos de integração vertical, cada banco possuía menos de 30%, percentual considerado abaixo do nível de preocupação para eventuais barreiras à concorrência.

Agências do Banco de Brasília (BRB), no Distrito Federal — Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília
Agências do Banco de Brasília (BRB), no Distrito Federal — Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília
Ibaneis sanciona a compra pelo BRB
No dia seguinte, o governo de Ibaneis Rocha (MDB) enviou à Câmara Legislativa um projeto de lei autorizando o BRB a comprar parte do Banco Master. A proposta foi aprovada em 19 de agosto.
Mesmo com a aprovação, deputados da oposição criticaram a falta de transparência na tramitação e questionaram a qualidade dos ativos do Banco Master.
No dia 20, Ibaneis sancionou a lei que autorizava a compra, publicada em edição extra do Diário Oficial do Distrito Federal. A lei permitia ao BRB adquirir “49% das ações ordinárias e 100% das ações preferenciais do capital social do Banco Master S/A”.
As pressões do Centrão
A tentativa de compra do Banco Master pelo BRB virou alvo de críticas de vários grupos políticos, chegando a levantar a hipótese de demissão de dirigentes do Banco Central.
O impasse extrapolou o DF e chegou ao Congresso Nacional. Na terça-feira (2), líderes do Centrão assinaram um pedido de urgência para acelerar a tramitação de um projeto de lei que autoriza o Parlamento a destituir membros da diretoria do BC por “razões de interesse nacional”.
De acordo com o “Valor Econômico”, o avanço do projeto ocorre em meio a pressões contra o diretor de Organização do Sistema Financeiro do Banco Central, Renato Gomes, que tem se mostrado resistente à operação e vem cobrando uma análise mais rigorosa e garantias mais sólidas do Banco Master na venda ao BRB.
BC reprova a compra
No comunicado, o BRB informou ter solicitado ao Banco Central acesso integral à decisão, com o objetivo de “avaliar seus fundamentos e analisar as alternativas cabíveis”. O banco também destacou que vê a aquisição como uma medida estratégica.
“O BRB reitera seu posicionamento de que a transação representa uma oportunidade estratégica com potencial de geração de valor para o BRB, seus clientes, o Distrito Federal e o Sistema Financeiro Nacional”, diz o texto.
Em comunicado, o Banco Master afirmou que aguarda acesso integral à decisão “para avaliar seus fundamentos e examinar as alternativas cabíveis”.
“O banco continua confiante na sua estratégia e na sua operação, que fizeram com que se destacasse num mercado altamente concentrado”, diz a instituição.
Até a última atualização desta reportagem, o Banco Central não havia se manifestado publicamente sobre a decisão.