Carreira de direito é mais o trabalho burocrático e menos o glamour
Opinião CASSIA NAKANO HIRAI MARINA FEFERBAUM ESPECIAL PARA A FOLHA O direito da TV, dos filmes e do noticiário quase sempre é o dos advogados e dos tribunais. Na maioria das vezes, mostra-se uma genial performance e um caso grandioso. Essa visão representa apenas uma dentre tantas atividades das profissões jurídicas. Há o direito das disputas e dos acordos, dos negócios e da militância social, do trabalho e dos trabalhadores, do poder público, da política. Há, sim, o direito dos crimes e das prisões, mas os julgamentos e as penas vão muito além das audiências cinematográficas. A rotina dos profissionais do direito é bem diversificada e, na maior parte do tempo, menos glamourosa que a mostrada nas telas. No dia a dia, o trabalho é o do cumprimento de prazos, das pesquisas de jurisprudência, da elaboração de peças processuais e pareceres, da gestão de processos em andamento na Justiça, das reuniões e da burocracia. Há trabalhos que envolvem rotinas repetitivas e aqueles que lidam com casos de grande repercussão, mas em ambos os casos é grande a responsabilidade e o estresse. A prática do direito, assim como a de outras carreiras, tem sofrido mudanças impactantes. No campo empresarial, advogados, gestores públicos e legisladores se dedicam à compreensão dos negócios, que evoluem e se transformam a cada dia. Adequar as leis às operações das start-ups, onde a inovação é o espírito do negócio, tem sido um desafio permanente. Inovações também são percebidas em práticas como arbitragem e mediação, que são meios alternativos aos processos judiciais, nos contratos com o poder público e no terceiro setor. Outra novidade está na tecnologia que permite processar grandes volumes de informação. Aos poucos, as estantes de livros dão lugar a data centers. O exército de estagiários que batalhava nos corredores e balcões dos fóruns perde espaço aos sistemas que coletam dados. Nesse contexto, o novo profissional do direito precisa de conhecimentos como programação, estatística e técnicas de gestão. Ganhará o profissional capaz de aprender sob demanda e que, ao mesmo tempo, mantenha virtudes como a capacidade de se conectar com seus clientes e compreender quais são os seus melhores interesses. Cassia Nakano Hirai é coordenadora do núcleo de prática jurídica da FGV SP e Marina Feferbaum é professora e coordenadora de metodologia de ensino da FGV SP