De furacão a anúncios velados: o vaivém dos EUA e a ‘demora’ na chegada de navios de guerra americanos à Venezuela

Venezuela diz que navios dos EUA vão chegar na semana que vem

Venezuela diz que navios dos EUA vão chegar na semana que vem

Há mais de uma semana, os Estados Unidos deslocam navios militares e um submarino nuclear para a costa da Venezuela. Segundo Washington, a operação tem como objetivo combater o tráfico internacional de drogas. Já o governo de Nicolás Maduro classifica a movimentação como uma ameaça direta.

O avanço, porém, tem sido marcado por idas e vindas — de um furacão que atrasou o deslocamento a anúncios desfeitos sobre a chegada de embarcações. Oficialmente, os EUA não confirmam que a missão tem como alvo Maduro, mas já deram sinais nesse sentido.

No dia 19 de agosto, um dia após a imprensa americana noticiar a movimentação das embarcações, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que os EUA vão usar “toda a força” contra Maduro.

“Maduro não é um presidente legítimo. Ele é um fugitivo e chefe de um cartel narcoterrorista acusado nos EUA de tráfico de drogas. Trump está preparado para usar toda a força americana para deter o tráfico de drogas”, disse.

Segundo as agências Reuters e a Associated Press, os EUA enviaram seis navios de guerra para o sul do Caribe, perto da costa da Venezuela. Centenas de militares e um submarino nuclear também participam da operação. A Casa Branca não confirma nem nega as movimentações.

Entre os navios acionados pelo governo americano estão os destróieres USS Gravely, USS Jason Dunham e USS Sampson, capazes de conduzir ataques contra aeronaves, submarinos e alvos terrestres.

Os EUA também enviaram um esquadrão anfíbio com outros três navios: USS San Antonio, USS Iwo Jima e USS Fort Lauderdale. Uma embarcação do tipo pode ser usada para operações de invasão. Também há relatos de deslocamento de aviões espiões P-8 Poseidon.

Fontes ouvidas pela agência Reuters se negaram a detalhar a operação.

O cientista político Carlos Gustavo Poggio afirmou ao g1 que o aparato enviado pelos EUA, incluindo mísseis, não é útil para combater cartéis. O cientista político aponta, por sua vez, que o efetivo militar deslocado é “extremamente eficaz” para atacar ou invadir um país.

Na segunda-feira (25), o Departamento de Defesa dos EUA disponibilizou imagens que mostram militares “simulando uma missão” a bordo do USS Iwo Jima. O governo se limitou a dizer que a embarcação estava no Oceano Atlântico e não forneceu detalhes do exercício.

EUA enviam navios de guerra para o sul do Caribe — Foto: Editoria de Arte/g1

EUA enviam navios de guerra para o sul do Caribe — Foto: Editoria de Arte/g1

A operação dos EUA sofreu alguns contratempos, sendo o primeiro deles provocado pelo furacão Erin. O esquadrão anfíbio chegou a partir com direção ao sul do Caribe no dia 14 de agosto, mas precisou retornar à base de Norfolk cinco dias depois.

Os navios que integram o esquadrão foram vistos deixando Norfolk no domingo (24). Não há informações sobre onde as embarcações estão atualmente.

Também não há detalhes sobre a localização dos outros três navios de guerra mobilizados pelos Estados Unidos. No entanto, na segunda-feira, o governo de Curaçao chegou a dar indícios de que as embarcações estavam próximas do sul do Caribe.

Em uma coletiva de imprensa, o primeiro-ministro de Curaçao, Gilmar Pisas, afirmou que o USS Jason Dunham atracaria na ilha na quinta-feira (28) para abastecer. Um dia depois, o governo emitiu uma nota dizendo que a “visita” havia sido cancelada.

“O Consulado dos EUA notificou o Governo de Curaçao de que o navio USS Jason Dunham não entrará mais nas águas territoriais. Até o momento, nenhuma outra solicitação foi apresentada para que outra embarcação naval atraque em nosso porto”, diz o comunicado.

Não está claro se o anúncio feito pelo primeiro-ministro tenha influenciado na decisão dos EUA. Na coletiva de imprensa de segunda-feira, Pisas pediu para que a população não viaje para a Venezuela.

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Militares participam de exercício no USS Iwo Jima, em 25 de agosto de 2025 — Foto: Brendan Watt/Governo dos EUA

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Maduro vê ameaça

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, é acusado pelos EUA de narcoterrorismo. Ele é apontado pelo governo americano como líder do Cartel de los Soles, grupo classificado recentemente pelos EUA como organização terrorista internacional.

No início de agosto, os EUA dobraram a recompensa por Maduro, estipulando um valor de US$ 50 milhões por informações que levem à prisão ou condenação do venezuelano.

Maduro vem classificando as ações recentes dos Estados Unidos como ameaças. Diante da movimentação militar, ele anunciou a mobilização de 4,5 milhões de milicianos para proteger o território da Venezuela.

“Fuzis e mísseis para a força camponesa! Para defender o território, a soberania e a paz da Venezuela”, proclamou. “Mísseis e fuzis para a classe operária, para defender a nossa pátria!”

A Venezuela também enviou 15 mil militares para a fronteira com a Colômbia após o governo vizinho afirmar que os EUA estavam usando o narcotráfico como uma “desculpa para invasão militar”. Por outro lado, o governo colombiano descarta colaborar com Maduro.

Ainda no documento, a Venezuela classificou as ações dos Estados Unidos como “grave ameaça à paz e à segurança regional” e pediu que a ONU monitore a “escalada de ações hostis” e “ameaças” do governo dos EUA.

Enquanto isso, países como Argentina, Equador, Paraguai e Guiana seguiram os Estados Unidos e também declararam o Cartel de los Soles como uma organização terrorista. Trinidad e Tobago, que fica muito próxima da Venezuela, também disse apoiar a ação militar dos EUA.

Nicolás Maduro durante discurso em 28 de julho de 2025 — Foto: REUTERS/Leonardo Fernandez Viloria

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