Irã pode começar a enriquecer urânio para bomba em alguns meses, diz chefe da agência nuclear da ONU

Irã pode começar a enriquecer urânio para bomba em alguns meses, diz chefe da agência nuclear da ONU

Irã pode começar a enriquecer urânio para bomba em alguns meses, diz chefe da agência nuclear da ONU

O Irã tem capacidade para retomar o enriquecimento de urânio – para uma possível bomba – em “questão de meses”, afirmou o chefe da agência nuclear da ONU.

Rafael Grossi, chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), afirmou que os ataques dos EUA a três instalações iranianas no último fim de semana causaram danos graves, mas “não totais”, contradizendo a afirmação de Donald Trump de que as instalações nucleares iranianas foram “totalmente destruídas”.

“Francamente, não se pode afirmar que tudo desapareceu e que não há nada lá”, disse Grossi neste sábado (28/6).

Desde então, a verdadeira extensão dos danos permanece incerta.

No sábado, Grossi disse à CBS News, parceira de mídia da BBC nos EUA, que Teerã poderia ter “em questão de meses… algumas cascatas de centrífugas girando e produzindo urânio enriquecido”.

Ele acrescentou que o Irã ainda possui “capacidades industriais e tecnológicas… então, se assim o desejarem, poderão começar a fazer isso novamente”.

A AIEA não é o primeiro órgão a sugerir que as capacidades nucleares do Irã ainda podem continuar – no início desta semana, uma avaliação preliminar vazada do Pentágono concluiu que os ataques americanos provavelmente apenas atrasaram o programa em meses.

Rafael Grossi diz que espera que as negociações ainda possam acontecer no futuro, apesar do Irã ter cortado relações com a AIEA. — Foto: EPA via BBC

Rafael Grossi diz que espera que as negociações ainda possam acontecer no futuro, apesar do Irã ter cortado relações com a AIEA. — Foto: EPA via BBC

É possível, no entanto, que futuros relatórios de inteligência incluam mais informações mostrando um nível diferente de danos às instalações.

Trump respondeu furiosamente, declarando que as instalações nucleares do Irã foram “completamente destruídas” e acusou a mídia de “uma tentativa de desmerecer um dos ataques militares mais bem-sucedidos da história”.

Por enquanto, Irã e Israel concordaram com um cessar-fogo.

Mas Trump disse que consideraria “absolutamente” bombardear o Irã novamente se a inteligência descobrisse que o país poderia enriquecer urânio a níveis preocupantes.

O Irã, por outro lado, enviou mensagens conflitantes sobre a extensão dos danos causados.

Em um discurso na quinta-feira (26/6), o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, afirmou que os ataques não alcançaram nada de significativo. Seu ministro das Relações Exteriores, Abbas Araghchi, no entanto, afirmou que danos “excessivos e graves” foram causados.

O relacionamento já tenso do Irã com a AIEA foi ainda mais desafiado na quarta-feira (25), quando seu Parlamento decidiu suspender a cooperação com a agência de vigilância atômica, acusando a AIEA de se aliar a Israel e aos EUA.

Teerã rejeitou o pedido da AIEA para inspecionar as instalações danificadas e, na sexta-feira (27), Araghchi disse no X que “a insistência de Grossi em visitar os locais bombardeados sob o pretexto de salvaguardas é insignificante e possivelmente até mesmo maliciosa”.

Israel e EUA atacaram o Irã depois que a AIEA, no mês passado, concluiu que Teerã violou suas obrigações de não proliferação pela primeira vez em 20 anos.

O Irã insiste que seu programa nuclear é pacífico e para uso exclusivamente civil.

Apesar da recusa iraniana em trabalhar com sua organização, Grossi disse esperar poder negociar com Teerã.

“Preciso conversar com o Irã e analisar isso, porque, no fim das contas, tudo isso, depois dos ataques militares, precisará de uma solução duradoura, que só pode ser diplomática”, disse ele.

Imagens de satélite após o ataque dos EUA mostram grandes crateras visíveis na instalação nuclear de Fordo, no Irã. — Foto: Imagem de satélite (c) 2025 Maxar Technologies via Getty Images via BBC

Imagens de satélite após o ataque dos EUA mostram grandes crateras visíveis na instalação nuclear de Fordo, no Irã. — Foto: Imagem de satélite (c) 2025 Maxar Technologies via Getty Images via BBC

Segundo um acordo nuclear de 2015 com potências mundiais, o Irã não estava autorizado a enriquecer urânio acima de 3,67% de pureza – o nível exigido para combustível de usinas nucleares comerciais – e não estava autorizado a realizar qualquer enriquecimento em sua usina de Fordo por 15 anos.

No entanto, Trump abandonou o acordo durante seu primeiro mandato em 2018, alegando que ele fazia muito pouco para impedir o desenvolvimento de uma bomba, e restabeleceu as sanções americanas.

O Irã retaliou violando cada vez mais as restrições – particularmente aquelas relacionadas ao enriquecimento. O país retomou o enriquecimento em Fordo em 2021 e acumulou urânio enriquecido a 60% suficiente para potencialmente fabricar nove bombas nucleares, de acordo com a AIEA.