Mesmo com recuperação, cai ritmo de expansão de start-ups nos EUA

O desemprego caiu e o mercado de ações disparou nos Estados Unidos. Por que, então, a expansão econômica vem sendo tão morna desde a recessão, com produtividade lenta e, ao menos até recentemente, crescimento anêmico nos salários? Os economistas dizem que a resposta, em alguma medida, pode ser encontrada na desaceleração do segmento de start-ups -ou seja, na queda da criação de empresas- e começam a compreender cada vez melhor o que explica esse fenômeno. Em 2015, último ano compilado, foram criadas 414 mil empresas nos EUA, segundo o censo americano. É uma ligeira alta ante o ano anterior, mas fica bem abaixo das 558 mil empresas criadas em 2006, antes da recessão. “Ainda estamos encalhados em relação às start-ups”, disse Robert Litan, economista e advogado antitruste que estudou a questão. “A recessão pesou, mas por que não houve recuperação?” Economistas dizem que a resposta pode estar no poder crescente das grandes empresas, que segundo eles estão sufocando o empreendedorismo ao facilitar que as potências existentes rechacem os avanços dos rivais -ou que os devorem antes que se tornem ameaça séria. “Temos visto poder de mercado crescente para algumas empresas”, disse Marshall Steinbaum, economista do Roosevelt Institute. “Isso em geral dificulta a concorrência para novas companhias.” SOB AMEAÇA A desaceleração na criação de empresas tem implicações graves, já que start-ups costumam ser vistas como exemplos de dinamismo econômico. As pequenas servem como propulsoras de empregos e inovação e, historicamente, atuaram como uma espécie de escada para que trabalhadores com nível de educação mais baixo e imigrantes chegassem à classe média. O mais importante é que as start-ups desempenham papel crítico ao tornar a economia produtiva, à medida em que inventam produtos e abordagens, forçando as empresas existentes a competir ou a deixar o mercado. “Ao longo das décadas, as companhias jovens provaram ser as responsáveis pelos maiores e mais constantes avanços em termos de criação de empregos”, diz Arnobio Morelix, economista da Kauffman Foundation, que estuda o empreendedorismo. Na era da Uber e do programa “Shark Tank – Negociando com Tubarões”, a queda na criação de novas empresas pode desafiar expectativas. Mas pesquisas indicam que o declínio no empreendedorismo é uma das causas da queda na produtividade. “As start-ups estão em queda desde 2000, sobretudo em alta tecnologia, e há vínculos cada vez mais fortes entre as duas questões”, diz o economista John Haltiwanger, da Universidade de Maryland. Especialistas também apontam o envelhecimento da geração baby boomer (nascida entre 1946 e 1964), que reduziu o número de americanos nas faixas etárias com a maior proporção de novas empresas. E o declínio dos bancos locais e o colapso do mercado de empréstimos garantidos por imóveis podem ter dificultado o acesso ao capital. A regulamentação, em nível estadual e federal, também é vista como uma carga incômoda para as novas empresas. Esses e outros fatores podem ter influenciado a tendência, mas nenhum deles explica sozinho o declínio. Alguns economistas começaram a apontar as grandes organizações como culpadas, sobretudo o pequeno número de companhias que exercem domínio cada vez mais forte sobre diversos setores. Segundo estudo da Universidade Princeton e do University College de Londres, as empresas americanas conseguem, em geral, cobrar preços superiores aos custos. Isso deveria ser um estímulo para que novas empresas entrem no mercado, mas não é o que está acontecendo. “Se vivemos numa era de lucros excessivos, deveríamos ver ingresso recorde de empresas, mas é o oposto”, disse o economista Ian Hathaway, que estudou o assunto. Para ele, isso sugere que o mercado não é competitivo e que as empresas acharam formas de parar a concorrência. YouTube, Instagram e outras start-ups menos conhecidas preferiram ser compradas por pesos pesados, como o Google e Facebook, a concorrer com eles. A Amazon apelou para uma guerra de benefícios fiscais entre cidades interessadas em abrigar sua segunda sede -o que uma start-up não poderia fazer. “É aceitável que empresas determinem como uma cidade cobra impostos?”, questionou Morelix. “E que regulamentação incide sobre elas? Isso deveria ser aterrorizante para qualquer pessoa que deseje um mercado livre.” Tradução de PAULO MIGLIACCI * 414 mil empresas foram criadas em 2015 nos EUA -em 2006, foram 548 mil 8,1% das empresas americanas têm menos de um ano 1 em cada 12 empresas foram fundadas em 2015 nos EUA, contra uma em cada oito em 1980