O futuro do império Armani: testamento revela quais gigantes da moda podem levar fatia do grupo

Morre o estilista Giorgio Armani; ele tinha 91 anos

Morre o estilista Giorgio Armani; ele tinha 91 anos

Armani nomeou os grupos LVMH, EssilorLuxottica e L’Oreal como seus compradores preferenciais, de acordo com trechos do testamento publicados pela imprensa italiana.

“Encarrego a fundação a ceder uma participação de 15% na empresa entre 12 e 18 meses após a abertura do testamento”, que aconteceu na quinta-feira, afirma o documento assinado pelo estilista.

A LVMH — dona da Louis Vuitton, Dior e Sephora — é uma das maiores empresas de luxo da Europa em valor de mercado. A companhia é liderada pelo bilionário francês Bernard Arnault, o oitavo mais rico do mundo com uma fortuna avaliada em US$ 162 bilhões, segundo índice da Bloomberg.

A EssilorLuxottica e a L’Oréal são duas das maiores empresas globais em seus setores. A EssilorLuxottica atua no mercado óptico, resultado da fusão entre a Essilor, fabricante de lentes, e a Luxottica, fabricante de óculos de sol e armações, dona de marcas famosas como Ray-Ban e Oakley.

Já a L’Oréal é a maior companhia de cosméticos do mundo, com sede na França. A empresa é dona de marcas como Lancôme, Maybelline, Garnier e L’Oréal Paris.

O testamento de Giorgio Armani

Embora Giorgio Armani tenha permanecido muito independente ao longo de sua vida, o novo acionista terá a possibilidade de assumir o controle do grupo, adquirindo entre 30% e 54,9% do restante do capital em um prazo de três a cinco anos.

Se a venda não for concretizada, o estilista pediu que a empresa passe a ser cotada na Bolsa e que a Fundação Armani conserve 30,1% das ações.

O estilista italiano deixou 100% da empresa para sua fundação. Esta será dirigida por seu companheiro e braço direito, Leo dell’Orco, e seus sobrinhos, que deverão tomar as decisões.

A fundação terá 10% das ações da empresa e o restante em copropriedade, com 30% dos direitos de voto. Leo Dell’Orco terá 40% dos direitos de voto e os sobrinhos do estilista, Silvana Armani e Andrea Camerana, 15% cada um.

Segundo o Wall Street Journal, os herdeiros terão de vender outra fatia entre 30% e 54,9% em um prazo de três a cinco anos. Caso a venda não ocorra, deverão realizar uma oferta pública inicial de ações (IPO).

O estilista também pediu que a empresa seja administrada “de forma ética, com integridade moral e correção”. Ele insistiu na “busca de um estilo essencial, moderno, elegante e discreto”, e com “atenção à inovação, à excelência, à qualidade e ao refinamento do produto”.

Além da venda de parte do grupo, a fundação de Armani, agora peça-chave na sucessão do estilista italiano, vai propor o nome do novo CEO do grupo, informou a companhia nesta sexta-feira.

Mesmo com a venda, a fundação ainda permanecerá com pelo menos 30% da empresa, “garantindo que os princípios criados por Armani sejam respeitados permanentemente”.

O futuro do império de moda

Apesar da desaceleração, a empresa segue altamente atrativa, segundo especialistas do setor.

Ao longo dos anos, o criador dos icônicos ternos desconstruídos recebeu diversas propostas para a venda do grupo italiano de moda, incluindo uma em 2021 de John Elkann, herdeiro da família Agnelli, e outra da marca de luxo Gucci, quando Maurizio Gucci ainda liderava a empresa.

Armani, considerado cauteloso pelo mercado em relação a rivais franceses, rejeitou repetidamente qualquer acordo que pudesse reduzir seu controle e recusou listar seu grupo na bolsa de valores.

O estilista adotou medidas para assegurar a continuidade e a independência de seu negócio, que conduziu junto a familiares de confiança e uma rede de colaboradores de longa data.

Ele deixa como herdeiros sua irmã mais nova, Rosanna, as sobrinhas Silvana e Roberta e o sobrinho Andrea Camerana, todos com funções importantes no grupo. Seu braço direito, Pantaleo Dell’Orco, também é considerado parte da família, e os cinco figuram como possíveis sucessores.

Protegendo seu legado por meio de uma fundação

Há mais de uma década, Giorgio Armani começou a planejar uma sucessão tranquila e a preservar a independência da empresa, o que o levou a criar uma fundação em 2016.

O objetivo declarado da fundação era “proteger a governança” dos ativos do Grupo Armani e assegurar que eles permanecessem alinhados a princípios que eram “particularmente importantes” para Armani.

Em 2017, o estilista disse ao jornal italiano Corriere della Sera que esse mecanismo era necessário para ajudar seus herdeiros a se entenderem e impedir que o grupo fosse comprado por terceiros ou dividido.

A fundação atualmente possui uma participação simbólica de 0,1% no grupo com sede em Milão, mas, após sua morte, a fundação terá uma fatia maior, juntamente com os demais herdeiros, segundo ele mesmo disse em entrevista antes de sua morte.

Ele também afirmou que três pessoas por ele indicadas administrariam a fundação. Armani redigiu ainda novos estatutos da empresa, a serem aplicados após sua morte, que estabelecem princípios de governança para os futuros herdeiros do grupo.

Os estatutos estabelecem uma “abordagem cautelosa em aquisições” e dividem o capital social da empresa em várias categorias, com diferentes direitos de voto e poderes. O documento, porém, não esclarece como os diversos blocos de ações serão distribuídos.

Eles também determinam que qualquer possível abertura de capital precisaria do apoio da maioria dos diretores e só poderia ocorrer “após o quinto ano da entrada em vigor deste estatuto”.

O estilista italiano Giorgio Armani, ícone da moda mundial. — Foto: Reuters

O estilista italiano Giorgio Armani, ícone da moda mundial. — Foto: Reuters