Secretário de Guerra dos EUA usa desenho infantil para zombar de ataques a barcos no Caribe e acusações de crime de guerra

Secretário de Guerra dos Estados Unidos, Pete Hegseth, e montagem de tartaruga Franklin bombardeando barcos. — Foto: Pool via Reuters e reprodução/redes sociais

Secretário de Guerra dos Estados Unidos, Pete Hegseth, e montagem de tartaruga Franklin bombardeando barcos. — Foto: Pool via Reuters e reprodução/redes sociais

O Secretário de Guerra dos Estados Unidos, Pete Hegseth, publicou no domingo (30) uma montagem com um desenho infantil para zombar dos ataques a embarcações no Caribe e de acusações de ter cometido um possível crime de guerra em uma ofensiva.

A montagem compartilhada por Hegseth mostra uma tartaruga verde chamada Charlie, de um desenho infantil de mais de 20 anos de existência e popular nos EUA, a bordo de um helicóptero disparando um lança-mísseis contra barcos carregados com pacotes e pessoas armadas com o título “Franklin mira narcoterroristas”. (Veja na imagem acima)

O Exército dos EUA realiza, desde setembro, bombardeios contra embarcações no Caribe e no Oceano Pacífico —em águas internacionais próximas à costa da América do Sul— a mando do presidente dos EUA, Donald Trump. Os ataques são amplamente repudiados pela comunidade internacional, e a ONU disse ver elementos de “execuções extrajudiciais”. (Leia mais abaixo)

Principal porta-voz dos ataques a embarcações, Hegseth teria dado uma ordem direta às tropas que matassem todos os integrantes de um dos barcos alvejados pelos EUA, o que configuraria um crime de guerra, segundo o jornal americano “The Washington Post”.

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“A ordem era matar todo mundo”, disse uma pessoa com conhecimento da operação sobre uma ordem verbal dada por Hegseth.

Hegseth afirmou na sexta-feira (28) que as operações do governo Trump no Caribe “são legais tanto sob a legislação dos EUA quanto sob o direito internacional, com todas as ações em conformidade com o direito dos conflitos armados”, e chamou a reportagem do “Washington Post” de fake news. O presidente americano disse no domingo que o secretário contou para ele que não deu a ordem.

Políticos do Congresso dos EUA, entre eles democratas e o republicano Mike Turner, sugeriram no domingo que o segundo ataque para matar os sobreviventes pode ter configurado um crime de guerra. O legislativo americano investiga os ataques do governo Trump.

“Obviamente, se isso ocorreu, seria muito sério, e concordo que isso seria um ato ilegal”, disse Turner, à TV americana “CBS”.

O deputado republicano é tratado como uma figura importante no partido, porque foi ex-presidente do Comitê de Inteligência. O senador democrata Tim Kaine também afirmou à “CBS” que, se a reportagem do “Washington Post” for correta, o ataque “alcança o nível de um crime de guerra”.

Funcionários do governo dos EUA e especialistas em direito de guerra disseram ao “Washington Post” que a campanha letal do governo Trump no Caribe é ilegal e pode expor os diretamente envolvidos a futuras acusações.

O Pentágono já indicou que dará imunidade judicial aos soldados do Exército americano envolvidos nos bombardeios a embarcações, segundo um comunicado interno obtido por agências de notícias.

Ataques a embarcações

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Até o momento, 20 embarcações foram atacadas e um total de 80 pessoas foram mortas. O ataque mais recente foi em 13 de novembro. O governo Trump acusam, sem apresentar provas, essas embarcações de pertencerem a cartéis de drogas latino-americanos e conter narcoterroristas e carregamentos de drogas rumo aos EUA.

O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, afirmou em novembro haver “indícios” de que os ataques do governo Trump são execuções extrajudiciais. No final de outubro, a ONU pediu que os EUA parassem com os ataques.

Desde então, os EUA mobilizaram uma ampla presença militar na região e fazem ataques recorrentes a embarcações no mar do Caribe e em regiões do Oceano Pacífico próximas à costa América Latina.

Os bombardeios a essas embarcações também compõem uma estratégia de pressão ao governo de Nicolás Maduro, da Venezuela, acusado pelos EUA de chefiar o Cartel de Los Soles. O presidente venezuelano acusa o governo Trump de realizar uma campanha de pressão que tem como objetivo tirá-lo do poder.